Uma tentativa, as vezes um tanto falha, de expressar a vida com palavras.



sábado, 30 de julho de 2011

Desculpas


Contam os velhos que existiu um menino muito levado que aprontava mil traquinagens. E a cada nova peripécia lá vinha ele com um pedido de desculpa, sempre sincero (não duvide). Certo dia veio a ele seu avô e lhe disse que cada vez que ele pedisse desculpa a alguém o menino deveria martelar um prego na no muro do quintal.  E assim o menino fez, enchendo em pouco tempo todo o muro de pregos. Novamente veio a ele o avô e pediu que retirasse todos os pregos, um por um. E o menino curioso para saber qual era a intenção do avô retirou todos. Após o ultimo o avô falou:
-Você pode pedir desculpas, mas não pode apagar as marcas que fez.
Essa é só uma história simples, que alguém um dia contou. Mas há nela toda uma verdade. Desculpas, mesmo as mais sinceras, não apagam as feridas. Palavras, mesmo as mais bonitas, não mudam fatos. Entenda que todo mundo erra. Sempre! Por mais que nos esforcemos para acertar, algumas vezes vamos errar. O real problema nisso é que errar é fácil, difícil é concertar. Coisas que quebramos em segundos levam dias para arrumar! Sentimentos são ainda mais complicados. Quem me dera que o coração humano fosse como as vidraças que quebrei na infância! Bastava algum dinheiro e um pedido de desculpas para a dona da vidraça voltar a sorrir ao me ver. Quando tratamos de coração não é assim, infelizmente. Coração magoado é feito o muro do quintal cheio de buraco de prego. Vai ser preciso muito trabalho, dedicação e cuidado para tapar todos os buracos. E mesmo assim, às vezes, a chuva e o vento podem desgastar o reparo, a massa corrida cai e o buraco volta a estar visível. Afinal não é por ter sido tapado que ele deixa de existir. Tapado ele deixa de estar na vista, pode até ser esquecido, mas não deixa de estar lá. Se existe um jeito de não magoar, de não precisar pedir desculpas, de não pregar mais um prego? Tem sim. Não errar! É... Infelizmente é inevitável errar, pedir desculpas e depois tentar consertar. Mas tenha paciência alguns buracos são mais complicados de se tapar que outros. Só não desista de tentar. E como ultimo alerta. Um muro, por mais resistente que possa ser, com muitos buracos pode rachar. Tome cuidado.

(Isso não é uma direta nem indireta a ninguém. E um conto que ouvi e resolvi contar e comentar. Coisa de contador de história. Agora quem quiser ver um cara que faz arte na base da martelada clica nesse link aqui: http://www.insoonia.com/arte-com-pregos-2/ )

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Corpo


No fundo dos olhos existem verdades que a boca esconde. A mente viaja mais rápido que os pés. E mais fácil ver o outro por inteiro do que ver a si mesmo por completo. Um cafuné não tem graça quando feito pela própria mão. Vivemos no mesmo mundo, mas cada um enxerga de um jeito.  Em gente que consegue lamber o cotovelo, mas você provavelmente não consegue. Homem chora com bolada no saco, mulher chora com bolada no peito. Palavras podem gerar dores que o tato não sente. Os ouvidos não são suficientes para escutar tudo que o silencio tem a nos dizer. O coração não precisa de ordens para bater e não avisa quando vai resolver parar. Dos abusos que cometemos hoje , o corpo reclamará amanhã.  Algumas dores do corpo são causadas pela mente. Quando envelhecemos o corpo diminui, mas a orelha aumenta. A mão escreve, mas não sabe ler. Nossa mente desconhece limites, nosso corpo os impõem.  Sou capaz de entender meu corpo, mas ele jamais me entenderá!

(acho que o tédio das férias esta afetando me afetando)

domingo, 17 de julho de 2011

Vida eterna?!



Às vezes eu penso demais. Um problema sério com o qual convivo quase diariamente. Minha cabeça cisma com algum tema e lá vou eu passar horas ou dias pensando sobre o assunto, até chegar a alguma conclusão ou esquecer a questão. Isso faz com que eu acabe complicando coisas que poderiam ser simples, ou me aprofundando demais em assuntos delicados ou desagradáveis, do tipo que é melhor esquecer do que entender. Mas sou incapaz de controlar, minha cabeça é sedenta por respostas e tem afinidade com o absurdo. Pois bem, nem sei por que falei tudo isso. Possivelmente uma tentativa de me desculpar pelo que está por vir. É... Às vezes eu penso demais. E numa dessas vezes eu pensei sobre a vida, a morte e o meu real papel nisso tudo.
Um leitor mais antigo (que prefiro chamar de desocupado recorrente) já sabe que sou espírita, mais especificamente umbandista “em formação”. Sou novo nas teorias espíritas, li as obras mais famosas de Kardec, alguns romances, me aprofundei em uma ou outra teoria.  Já são quase quatro anos envolvido com espiritismo, o que é muito pouco para entender a vida eterna! Mas eu tentei, por pensar demais.
Basicamente o espiritismo nos diz que todo ser humano é a combinação de um corpo material e um imaterial (ou semi material). O corpo material é este que adoece, se fere, morre e apodrece.  O imaterial seria seu espírito, um corpo imortal que vive em constante busca de conhecimento e aprimoramento moral.  Nem gosto de chamá-lo de corpo, pois corpo nos remete a imagem do corpo humano, que não creio que seja obrigatória ao espírito livre. Vejo espírito como energia pura, porem com a capacidade de raciocínio e aprendizado.
Olha quem quiser entender melhor esse ultimo parágrafo, por favor, pesquise um pouco no bom e velho Google, por que não estou interessado agora em fazer explicações sobre os conceitos do espiritismo, quero falar sobre uma conclusão pessoal na qual cheguei após pensar um pouco sobre o assunto.
Pois bem, sendo o universo todo uma criação divina e Deus um cara super bacana, capaz de entender que as falhas humanas são fruto da ignorância e imaturidade de seus espíritos, foi criado o processo de reencarnação. Onde é dado a um espírito uma nova chance de viver na terra preso a um corpo para experimentar as relações e os sentimentos de maneira mais intensa do que na forma de espírito livre. Vou tentar ser mais claro, o tempo que nossos espíritos passam presos aos nossos corpos serve para que possamos experimentar os sentimentos e as conseqüências de nossas ações de maneira mais intensa. Temos um corpo que reage de acordo com nosso comportamento, que adoece ou fica mais saudável de acordo com o rumo que tomamos em nossas vidas, assim nossos espíritos podem aprender melhor certos aspectos da vida, aprendem a lidar com seus sentimentos, idéias e a conviver com ou outros em comunidade.
A cada nova reencarnação o espírito tem a chance de aprender e testar seus limites, buscando sempre a perfeição. E para isso não basta apenas reencarnar. Um espírito pode ter vivido inúmeras vidas e por isso tem muitas experiências e lembranças, que muitas vezes poderiam atrapalhar sua nova vida. Já pensou se você lembrasse de tudo de bom e ruim que fez em todas suas vidas anteriores? Primeiro que seria informação demais, depois que essa informação poderia lhe trazer sentimentos ruins como frustração, raiva, inveja... e tudo isso iria dificultar seu novo aprendizado, sua nova vida encarnada.
Pois bem, sendo assim Deus deu um jeito de fazer o mecanismo funcionar. (Deus é simplesmente um gênio! Não paro de me surpreender com as coisas que ele é capaz de bolar!) Ficou estabelecido que, ao reencarnar, o espírito esqueceria suas lembranças, tendo delas apenas intuição, e conservaria sua atual postura moral e capacidade intelectual, que podem e devem ser aprimoradas na nova vivencia encarnada. Então você vem ao mundo, através de um parto num canto qualquer do globo sem lembrar de todas as suas vidas anteriores. E a partir daí começa a viver a se desenvolver.
Durante sua vida serão apresentados a você diversos momentos nos quais terá a chance de testar os conceitos que veio aprender na vida encarnada. Chances para entender melhor determinados sentimentos, idéias, conceitos. Obstáculos que melhorem sua relação com seus irmãos humanos. Como também haverá momentos em que você poderá notar defeitos e falhas que ainda lhe eram desconhecidos.  Até esse ponto tudo está tudo divino e perfeito.
Você viverá sei lá quantos anos, seu corpo morrerá e sua alma se verá novamente livre no mundo dos espíritos. Ela terá aprendido algumas coisas, terá tido algum progresso e se tiver uma vida bem administrada pode ser que até sai da vida de encarnado sabendo onde ainda deve se aprimorar e vai buscar maneiras de se aprimorar no mundo dos espíritos até que lhe seja conveniente voltar para mais uma encarnação. Vejo a encarnação como uma prova escolar, onde Deus testa os conhecimentos (e condutas) que adquirimos no mundo espiritual.
Ok, mas tem uma coisa nisso tudo que me incomoda. O papo de a vida ser eterna. Bem, não duvido que a o espírito seja imortal e que o que chamamos de morte é apenas uma passagem para a vida como espírito. Assim como encarnar seria a morte da vida como espírito. E apenas uma mudança, mas a vida não acaba. Ela é continua.
O problema se dá quando penso que eu, neste atual momento da minha existência eterna, sou a combinação de um corpo material que irá se desfazer, de um espírito que não guarda se lembra de fatos das vidas anteriores e do ambiente que vivo neste momento na terra. Esses fatores são muito específicos! Eu seria diferente se tivesse outro corpo ou vivesse em outro lugar! Meu espirito não influencia muito no que sou ele só a base moral e intelectual para que eu possa interagir com o ambiente em que me encontro. Eu não sou o meu espirito, eu sou o resultado da junção do ambiente e das limitações e aptidões do meu corpo interagindo com a base moral e intelectual do meu espirito. Mas de forma nenhuma eu sou, agora, o que meu espírito é no todo. Meu espírito é muito mais que eu, sou apenas parte do todo.
Quando meu corpo morrer meu espirito estará livre e aos poucos irá se lembrar de todas suas outras vidas, a vivencia que esses anos que estou passando na terra agora estará para sempre registrada na memória do espirito, mas ele não será eu. Meu espirito, quando livre e com suas memórias despertas é a combinação de inúmeras vidas. Não só vidas encarnadas, mas também vidas que passou desencarnado no mundo dos espíritos. Meu espirito terá traços semelhantes aos meus, alias, na verdade eu é que guardo traços semelhantes às atitudes do meu espirito já eu sou apenas um fruto das atitudes dele.
Quando meu corpo morrer, a vida do espirito que move este corpo continua. Ela é eterna, mas eu não sou. Morro com o corpo que habito. Nunca mais serei o mesmo! Pois eu sou as vivencias que tive, fruto das influencias e experiências do ambiente em que vivo, tendo apenas como base a postura de meu espirito. Quando morrer o espirito se liberta! Volta a ter todas as suas lembranças e eu, Maycon Félix Lozano, passo a ser apenas uma lembrança no meio de tantas outras.  Vejo o espirito como um grande ator e cada vida encarnada como um personagem encenado, o ator não esquece o que viveu enquanto personagem, e essa vivencia trás ao ator experiências e ensinamentos que ele guardará por toda vida. Mas o ator não é seu personagem, o personagem é apenas parte da vida do ator.
Sendo assim chego a conclusão que morrerei um dia! Mas não me decepciono ou fico triste com isso. Sei que o espirito que me move vai guardar boas lembranças do tempo em que viveu minha vida e me dedico a fazer de minha existência algo útil, para viver eternamente como uma lembrança agradável na mente de meu espirito. Posso nunca mais voltar a ser o Maycon, isso é fato, mas já ficarei feliz se meu espirito puder dizer por toda eternidade o quanto foi bacana ser o Maycon, mesmo que por poucos anos. Um instante para quem viverá a eternidade.
Essa conclusão me diz que eu e meu espirito podemos ter algumas diferenças e até idéias um pouco divergentes, pouco mesmo, mas me dá uma certeza. O espirito que me habita certamente também pensa demais.