Uma tentativa, as vezes um tanto falha, de expressar a vida com palavras.



domingo, 24 de abril de 2011

O Império das 4 Torres- Versão do Leste - Parte 5

parte 4

A Ultima Refeição


Vestido com seu terno favorito, cor vinho com detalhes em branco, que muitos poderiam considerar ridículo, mas ninguém jamais falaria isso. Um dos pontos positivos de ser um ditador sanguinário que carboniza qualquer um sem nem se quer precisar tocar. Ao sair deu uma ultima olhada no aposento e sorriu, o riso enigmático de quem deixa a cela rumo a forca. Caminhou acompanhado de seu capitão que lhe passava relatórios enquanto subiam, com um elevador feito de vidro e prata polida de uso exclusivo do ditador, até a cobertura da torre onde ficava o luxuoso restaurante de vista panorâmica O capitão lhe informava que a reunião dos ditadores estava marcada para dali poucas horas. Que todos os vigias do deserto tinham sido recolocados em outras funções e nesse momento abandonavam suas atividades no deserto. Que o procedimento de evacuação estava pronto e que qualquer um que soubesse mais do que deveria sobre as operações que logo mais aconteceriam já haviam sido eliminados. O ditador então parou e olhou para o analisando-o friamente e perguntou:
-E quanto a você?
-Não me preocupo com a morte senhor, só quero me vingar daqueles que destruíram minha vida.
-Você foi só mais um grande erro que nós, senhores do mundo, cometemos. Na tentativa de silenciar nosso melhor médico e engenheiro, que se mostrava revoltoso, utilizamos nele as praticas cirúrgicas que ele mesmo criou. Tiramos seus membros e boa parte de seu cérebro e trocamos por órgãos cibernéticos que deveríamos poder controlar. Assim foi a morte dele e seu nascimento, ciborg R2DM. Mas infelizmente herdou grande parte das ideias e do ira do doutor. Só não te destruí pois precisava de um traidor servo confiável para minha grande traição. Você ainda é útil meu amigo.
-Maldito seja você meu senhor. Nós monstros não temos amigos.
-Que seja. Chegamos.
E realmente chegaram, estavam no mais luxuoso restaurante já visto. Mesas com tampos de vidro trabalhado, luminárias de cristal e diamante, tudo adornado com prata e detalhes metálicos bem polidos. A vista panorâmica permitia ver a cidade toda, as torres, todo o horizonte cinza e todo céu azul. Era uma bela manhã que ainda estava em seu inicio. Embora gigantesco, o restaurante estava vazio. Um metre levou o ditador até a mesa onde se encontrava uma mulher morena vestida com um belíssimo e finamente trabalhado vestido vermelho. O ditador se sentou e pediu que não fossem servidos ainda, mas que esperassem a ordem para começar a trazer a refeição. Sorriu para a mulher a sua frente, mas ela, com um rosto marcado pela preocupação e pelo medo, não sorriu. Ele quebrou o silencio com sua fala:
-Camila! Lhe serviu como uma luva o vestido, foi feito pelos melhores alfaiates que temos por aqui. Servos diretos da Rafaela, mas que sob meu pedido lhe fizeram esta obra prima.
-Não me entenda mal, gostei do presente. Mas ser acordada as pressas com um soldado dizendo que eu tinha sido convocada para um café da manhã e que deveria usar um vestido de gala me deixou confusa.
-Relaxa. Durante todos estes anos ,que tem me servido como companheira, não é a primeira vez que te peço um absurdo.
-Não me trate assim, estou com você por que quero! E não para te servir.
-Esta comigo por que me teme! Mas não me importo com isso. Não mais. Hoje meu reinado nesta terra acaba e você será liberta. Mas antes gostaria de te contar uma história, como era meu costume antes das guerras.
-Terminar o reinado?! Os outros viram te atacar? Oque esta acontecendo, enlouqueceu de vez?
-Cale-se! Não faz bem se exaltar agora, estragaria parte do plano se alguém ouvisse oque estou para te revelar. Cala-te e ouça atentamente.
Olhando fundo nos olhos desesperados de camila ele começou a contar a profecia do velho que encontrou no fim do mundo. Um velho branco, de cabelos grisalhos, pele enrugada e vestes muito alvas. Andava apoiado em um cajado e nenhum dos quatro revolucionários sabia explicar como ele tinha chegado até eles sem ser morto por seus ataques ou pelos monstros infernais. Mas ele estava lá e os quatro o observavam com atenção. O velho olhou cada um e com um riso frouxo do rosto os cumprimentou chamando-os de salvadores. Eles estavam confusos como nunca, a vida deixara de fazer qualquer sentido e uma ficção sem nexo nenhum dominara a realidade. Queriam fazer perguntas, mas uma estranha calma os abateu e eles sentaram calados diante do velho, que disse:
-Assim será melhor, estão muito agitados e creio que essa seja uma reação natural. Afinal presenciaram o fim do mundo e sobrevieram para contar. Há há! Sorriam crianças. È verdade que o mundo que conheceram acabou. Finalmente! Pois a humanidade se tornou incontrolável. Mas não podia esperar que existissem seres humanos com tanta força para lutar, para sobreviver. Olhando para vocês posso ver muitas batalhas e muito sangue derramado com a desculpa do amor. Foi exatamente essa inabilidade de confundir o amor do ódio que fez com que os humanos merecessem passar por tudo isso, mas vejo em vocês algo diferente. São capazes de fazer qualquer coisa por amor, não só matar. Mataram por que lhes pareceu necessário. Queriam vingar os mortos com o sangue de quem os matou, mas não era esse o motivo central. Vocês se preocupam com aqueles que sobreviveram aos ataques. Queriam salvar o mundo da guerra. Cinco pessoas contra o mundo e mesmo parecendo absurdo e suicídio continuaram. E quatro estão aqui na minha frente hoje. Após unirem forças e fé e enfrentarem até p apocalipse. Não deixarei que falem hoje, vocês não entendem nada do que aconteceu e nem do que vai acontecer, por isso só saberão falar tolices. Estou farto das tolices humanas. Mas darei a esta gente mais um chance. Vocês quatro terão a missão de reunir a tua raça e levá-los a uma terra fértil que lhes darei. Lá construíram uma nova cidade e uma nova sociedade entre os humanos. Não irei interferir, façam oque acharem necessário e construam um vida de paz, onde o homem e o ambiente possam conviver em harmonia Já vi que são capaz de muitas coisas, e sei que serão capazes de fazer isso. Vocês são os escolhidos para trazer equilíbrio e ordem a terra!
Com essas palavras os quatro adormeceram, acordando em um campo verde. Um vasto circulo verde no meio de um deserto cinza. Levantaram desnorteados e começaram a tentar entender até onde aquilo tudo poderia ser verdade.
-Esta é a profecia que o tal velho nos disse.
-Você já havia me contado isso e todo o resto da história de como se tornaram... poderosos.
-Monstruosos eu diria! Mas oque você já deve ter notado mas não teve coragem de comentar é que falhamos. Ao criar uma sociedade dominada pelo medo e escravizada por nossos poderes nós não seguimos a tal profecia. Não há equilíbrio e nem ordem nesta terra. Há medo e um governo sanguinário que esta baseado no poder. Mas nem tudo esta perdido.
-Fala logo oque você esta pensando.
-Finalmente me tratando como um igual! Acho que estou certo quando digo que o caos fará bem a este povo. Bom esta tarde destruirei a cidade e os ditadores. Dos escombros dessa cidade nascerá a nova humanidade. Pois das ruínas que iremos deixar ainda sera possível tirar o sustento de varias gerações e a tecnologia que acumulamos por todo este tempo sera útil aos povos que a procurarem.
-Não entendo, oque você diz é loucura! Não há como vencer os outros 3 sozinho! Nem você poderia.
-Não posso. Mas isso é problema meu. Quanto a você, basta saber que quando partirá da cidade ainda nesta manhã. Há um veiculo a sua espera com todos teus pertences no subsolo desta torre. O capitão R2DM te guará até lá. Sei que não gosta dele, mas ele é confiável. O ódio daquele homem esta voltado apenas aos ditadores.
-Oque?! Partir? Com ele?! Nunca!
-Pois bem, mas se ficar irá morrer! Ocupou por tempo demais o cargo de minha amante. Muitos te vem como a feliz rainha desta torre. Se ficar você irá tombar com ela. Deve ir, e não reclame do seu destino. Muitos serão mortos esta tarde no fogo cruzado! Todos esses invejaram a chance que estou lhe oferecendo.
Camila permaneceu calada por uns instantes. O ditador fez sinal para que o café da manhã fosse servido. Era um banquete! Parecia que todas as delicias já criadas pela culinária estavam presentes.
O ditador disse baixinho para Camila.
-Coma! Coma e torça para que, diferentemente de mim, esta não seja sua ultima refeição.

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