Uma tentativa, as vezes um tanto falha, de expressar a vida com palavras.



quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Pais e Filhos - Legião Urbana

"Estátuas e cofres. E paredes pintadas. Ninguém sabe o que aconteceu..."
Meu pai dirigia o carro. Estavamos todos meio tristes. Ele tentava aliviar as coisas com algumas brincadeiras, mas ficava a maior parte do tempo calado. Estavamos indo assistir um filme no cinema.
A separação dos meus pais tinha acabado de acontecer e todo munda tava meio inseguro e asustado.
"...Ela se jogou da janela do quinto andar. Nada fácil de entender..."
Minha mãe deixou meu pai e levou tudo que ele tinha de bom, os filhos e o bom humor. Até quele dia fatidico eu nunca tinha visto ele triste. Hoje o raro é ver ele feliz!
Mas não foi clapa dela, nem culpa dele. Foi culpa da vida, que faz as coisas parecerem perfeitas.
"...Dorme agora. É só o vento lá fora..."
Ele estava tentando nos destrair. No caminho o pouco que falamos não tocou no asunto separação. Ele estava tentando fingir que nada tinha mudado. Afinal, minha mãe não costumava ir ao cinema mesmo! Ela fica zonza no cinema, passa mal e acaba tendo que sair da sala.
"...Quero colo. Vou fugir de casa. Posso dormir aqui. Com vocês?..."
Mas ninguem conseguia esquecer. Não adiantava. A unica pessoa naquele carro que estava feliz era a minha irmã de 4 anos, que não tinha entendido por que estavamos quietos. Ela estava curiosa pra saber por que o "papai" foi morar na casa da "vovó". Mas não demoraria muito para ela descobrir que o motivo não importava, ele não ia voltar.
"...Estou com medo tive um pesadelo. Só vou voltar depois das três.."
O caminho até o cinema costumava demorar algund minutos, mas naquele dia demorou uma eternidade! Meu pai dirigia rápido, curvas fechadas e pé lá embaixo. Era sempre assim quando estava bravo.
Meu irmão não falou nada, estava com uma cara azeda. Estava sofrendo calado. Eu estava falando muito, nunca fiz nada calado. Mas ninguem me respondia. E minha irmã... bem, no mundo dela só importava o Tarzan.
"...Meu filho vai ter. Nome de santo. Quero o nome mais bonito..."
Mas com certeza o mais debilitado naquele carro era meu pai. Não que a separação tenha sido uma surpresa para ele. Ele sabia dela a alguns anos. Mas enfrenta-la de frente estava sendo dificil. Ele não tinha onde se apoiar, e acabou se segurando no pouco que sobrou. Seus filhos.
"...É preciso amar as pessoas. Como se não houvesse amanhã. Por que se você parar pra pensar. Na verdade não há..."
Nós estavamos fazendo o mesmo. Um bando de naufragos, se segurando uns nos outros. E torcendo pra ninguem afundar. Foi uma época dificil. Minha mãe estava sofrendo por ter seguido oque ela achava certo.
Meu pai estava sofrendo por ter seguido oque ele achava certo. E nós estavamos sofrendo por termos que conviver com algo que achavamos errado. Mas algo nos unia, mas não era algo bom. Era o sofrimento.
"...Me diz por que o céu é azul. Explica a grande fúria do mundo. São meus filhos que tomam conta de mim..."
Tem coisas que ninguem pode esplicar. E eu estava conhecendo uma dessas coisas. Naquela noite tudo parecia estar perdido. Mas o Rádio estava ligado. Eu não tinha percebido até começar a ouvir um aranjo que me acalmou. Algo como um... TumTumTum TuinTumTum. A musica era confusa. Na verdade tudo era confuso naquele carro, mas esta musica era especialmente confusa.
"...Eu moro com a minha mãe. Mas meu pai vem me visitar..."
Mas que ousadia! Falar de pais e filhos justo agora!!! Foi injustiça minha ter pensado isso, já que a musica já era velha e o Renato já tinha passado dessa . Mas eu não estava nem ai! Oque eu queria era acabar com a raça de quem escreveu isso, de quem tocou isso na rádio aquela hora... Pra ser cinsero, eu queria acabar com toda a raça humana!
"...Eu moro na rua não tenho ninguém. Eu moro em qualquer lugar..."
Mas a musica tinha algo a mostrar. Não estava bem certo se era algo bom ou ruim, mas era algo! E qualquer coisa que não fosse a separação dos meus pais me parecia algo muito bom naquela noite. Comecei a escutar e penssar, mesmo com raiva, comecei a perceber que tem gente que passou por perdas maiores que eu na vida.
E que talvez eu poderia gastar uma parte desse energia, que estava na forma de raiva, para ajudar essas pessoas mais ferradas que eu.
"...Já morei em tanta casa que nem me lembro mais. Eu moro com os meus pais..."
E comecei a ver, embora meus pais tenham se separado, eles ainda estavam junto de mim. Ñão era embaixo do mesmo teto, não era a mesma coisa de antes. Mas ainda era alguma coisa. E uma coisa boa, afinal, eles ainda gostavam de mim.
"...É preciso amar as pessoas. Como se não houvesse amanhã. Por que se você parar pra pensar. Na verdade não há..."
Não! Eles não gostavam de mim. Eles faziam e fazem muito mais que isso! Eles me amavam, amam e amaram!
Amor é incondicional, podemos até não chamar o amor de amor, mas no fundo sabemos que ele está em nós ou está presente. E aquela musica estava me mostrando isso! Nós estavamos estacionando no cinema, e meu pai já ia desligar o carro. Mas eu não podia sair sem terminar de ouvir! Impedi ele de virar a chave, e pedi que esperace a musica acabar! Ele sorio e disse: "É claro filhão!Tambem gosto de Pais e Filhos"
Pronto! A musica agora tinha nome. E era um nome especial, por que lá estava meu pai compartinhando a musica com seus filhos.
"...Sou uma gota d'água. Sou um grão de areia..."
Meu pai. Um homem de carne e osso. Que tem todo direito de ficar abatido quando as coisas não dão certo.
E que tambem tem o direito de tentar algo melhor para a vida dele! E que estava precisando de apoio. Não que meu pai não fosse um super herói pra mim, claro que ele era! Mas era um heroi precisando de cuidados. E eu tinha uma certa quantidade de energia sobrando mesmo, e resolvi transformar parte da minha raiva em compreenção. Dei a mão ao meu pai! E ele apretou forte.
"...Você me diz que seus pais não lhe entendem. Mas você não entende seus pais..."
Na verdade foi nesse instante que a musica acabou. E todos nós abraçamos meu pai, que estava chorando.
E não tem nada mais triste que ver seu pai chorar. Eu estava começando a entender ele. Eu estava começando a entender minha mãe. Eu estava começando a entender uma coisa tão óbivia...
"...Você culpa seus pais por tudo. Isso é absurdo..."
Embora seus pais cuidem de você. Mesmo semdo eles os responsáveis pela sua educação e desenvolvimento. Sabendo que são eles que lhe alimentaram e cuidaram de você quando ocê adoeceu. Eles não vivem a sua vida e não tomam as decisões por você.
"...São crianças como você. O que você vai ser. Quando você crescer?"
A unica coisa que difere você de seus pais é a idade! Você tem o direito e o poder de escolher seu caminho na vida!Meus se separaram e não havia nada que eu pudesse faze para mudar. Mas eu podia escolher meu caminho! Eu não precisava ficar me fazendo de vitima, jogado pelos cantos chorando! Eu tinha que ser forte e ajudar meus pais a passar por essa, assim como eles me ajudaram minha vida inteira!
Pais não passam de crianças grandes! E crianças são apenas pais pequenos!
E essa é a minha musica favorita!
"...TumTumTum TuinTumTum... TumTumTUm TuinTumTum..."

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