Uma tentativa, as vezes um tanto falha, de expressar a vida com palavras.



quarta-feira, 2 de setembro de 2009

E tudo vai ficar pior

Um banco velho bem ao lado do portão. Nele sentedado um mal sujeito de roupas gastas e um cigarro que está sempre no fim. Em vida ele foi um matador, ladrão de bancos, prapaceiro e apostador, mas hoje em dia passa seus dias sentado ali. Tira do bolso as velhas cartas de baralho, já tão usadas. Bordas rasgadas, estampas apagadas e cheia de lembranças do seu grande fim.
Era uma noite muita boa. Um belo assalto, um tira a menos e saco de dinheiro escondido no porão. A bebida forte era perfeita pra comemorar, só não mais perfeita que a concubina do outro lado do salão. O jogo estava bom, apostas altas contra alguns bebuns, só mais uma carta e já teria o tão sonhado vinte e um.
Um sol de tiro ecoou pelo sallon, um desgraçado começou a se gabar. O tiro pelas costas atravessou o seu pulmão, ficou travado no tampo grosso da mesa do velho sallon. A queima roupa, só deu tempo de se virar e ver o rosto sorridente do desgraçado traidor.
Hoje esta sentado em seu banquinho, fumando seu cigarro e esperando bem ao aldo do portão. A toda hora chega mais um infeliz. Ele, com um sorriso, os recebe dizendo:
-Vai entrando que meu asunto não é com você. E sempre completa a frase com guspindo no chão.
Anos se passam e ele sempre ali, sempre acordado bem ao lado do portão. São muitas as almas que passam por ali, as vezes ele diz para os recem chegados que o inferno passa por super-lotação.
A vida eterna na porta do inferno seguiu sempre a mesma, sentado no seu canto. Esquecido por Deus como tudo mais que lá existia. Esperando o desgraçado que lhe enviara para casa mais cedo. O dono da pala que lhe atrevessou o pulmão antes da ultima carta, antes do jogo acabar. Ele já esperava ter uma vida curta. Mas sonhara morrer com um tiro na cara, disparado por um corno qualquer ou um tira com poucos escrupulos. Mas não um tiro traidor no meio de um jogo perfeito! E antes a concubina! O traidor ia pagar.
E lá estava ele, o traidor infeliz. Descendo o caminho que ia até o portão, velho e decrépito. Logo se via que não passava de um porco imundo metido a matador. Bons matadores tem vindas intensas e curtas! Morrer de velhice é uma vergonha.
Sorrindo, levantou finalmente de seu banquinho, jogou o cigarro no chão. E finalmente o cigarro apagou. Pegou o banquinho na mão e foi andando sorridente até o velho que a muito tempo tinha lhe enviado pro inferno. Foi andando calmamente e dizendo, de forma quase cantada as seguintes palavras:

"Faz idéia do tempo que eu esperei?
Desde o dia em que você atirou em mim.
Uma bala pelas costas, traidor!
Ter morrido desse jeito foi o fim.

E foi por isso que ansioso eu esperei
pelo teu dia de aparecer aqui.
E te mostrar o quê é que foi que eu planejei
nesse tempo todo que eu fiquei aqui.

E o diabo prometeu você pra mim!
Eu prometi que vou fazer você sofrer.
Eu tenho a eternidade toda pra fazer.
Isso daqui ficar pior!

Mas uma coisa é boa, eu devo admitir.
Nessa vida quando morre é de uma vez.
Daqui do inferno não tem jeito de fugir.
Vou te explicar agora o que você me fez.

Eu tava bem naquela mesa de saloon,
com um maldito jogo bom na minha mão.
Mais uma carta então fazia vinte e um...
Mas não com a bala atravessando o meu pulmão."

Com a banqueta arrebentou o nariz do infeliz. Com um belo soco o velho foi parar no chão.As velhas cartas fez o velho engolir! Um chute no saco pra completar as boas vindas e pelas pernas foi arrastado para dentro do portão. E o seu carrasco após anos esperando estava gragalhando de tanta empolgação.
(Matanza-E tudo vai ficar pior)

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